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"Eu acho que é o desejo de ter uma vida melhor. Estar aqui te oferece segurança, poder de compra e uma vida digna na questão financeira, que muitas vezes os lugares do Brasil não oferecem. Acho que é por isso que as pessoas querem migrar."

Reprodução Instagram / @jessicabarbosa4

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Podcast Longe de Casa - EP1_Jéssica in the USA
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Você sabia que há cerca de 4,2 milhões de brasileiros espalhados ao redor do mundo? Segundo dados do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores, entre 2010 e 2020, o número de brasileiros no exterior cresceu aproximadamente 35%. Nunca houve, na história do nosso país, tantos brasileiros morando fora.

 

Esse movimento migratório, que apresentava crescentes desde 2014, caminhava para valores recordes um ano antes da pandemia de coronavírus de 2020. Só nos primeiros seis meses de 2019, a Receita Federal do Brasil recebeu cerca de 21.873 declarações de saída definitiva de cidadãos brasileiros do país. Um número maior do que todo o ano de 2018.

 

Quem também decidiu sair do Brasil em 2019 foi a paulista Jéssica Barbosa, de XX anos. Após o fim de um relacionamento no qual era noiva, ela decidiu trocar a rotina cansativa de moradora da cidade de São Paulo por uma nova vida nos Estados Unidos. 

A vida de Jéssica no Brasil era bastante cansativa. Além de trabalhar, ela ainda estudava e fazia estágio. Passava o dia todo fora de casa, gastava mais de duas horas no trânsito e não tinha tempo para quase nenhum lazer. Trabalhava como maquiadora de festas nas horas vagas para obter uma renda extra. Foi através de uma colega de trabalho, no qual exercia cargo no RH de uma empresa de contabilidade, Jéssica ficou sabendo do Au Pair.

Reprodução Instagram / @jessicabarbosa4

Reprodução Instagram / @jessicabarbosa4

O Au Pair é um programa internacional de intercâmbio cultural destinado a pessoas que desejam trabalhar como cuidadores infantis em outros países. Pelo fato das au pairs terem direito a salário, moradia e alimentação fornecida pelos patrões, esse acaba se tornando um dos intercâmbios mais baratos e mais procurados pelas brasileiras. De acordo com o Departamento de Estado, o Brasil é o segundo país que mais envia au pairs para os Estados Unidos, perdendo apenas para a Alemanha.

 

O processo para se tornar uma au pair nos EUA é mais rigoroso do que no restante do mundo, pois requer intermédio de agências especializadas de maneira obrigatória para isso. Além disso, os requisitos incluem ser solteira e sem filhos, ter idade entre 18 e 26 anos, ter experiência comprovada em trabalhos relacionados à crianças, ter carteira de habilitação, boas condições de saúde e disponibilidade para morar e trabalhar lá.

No entanto, Jéssica não tinha alguns dos requisitos necessários para embarcar como intercambista nesse programa, então passou cerca de 3 anos se preparando. “Eu não tinha todos os requisitos. Eu não tinha habilitação, eu não tinha experiência com crianças e eu não tinha inglês. Fui atrás de tudo. Eu reprovei na prova da habilitação, no Brasil, três vezes. Não consegui o inglês, não entrava na minha cabeça e eu embarquei com inglês básico. Corri atrás das horas com crianças fazendo trabalho voluntário em hospitais, escolas e igrejas. E depois de 3 anos insistindo, eu finalmente consegui embarcar.”

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Reprodução Instagram / @jessicabarbosa4

Em 2019, após preparar toda a papelada, ela viajou. Pouco depois de se instalar nos Estados Unidos, Jéssica se deparou com a Pandemia de Coronavírus, que teve início aqui no Brasil em meados de março de 2020. Ela passou todo o período pandêmico na casa das chamadas hots families e conta que foi bem conturbado.

 

“Aqui no Estados Unidos tem muitos prós e contras, assim como tem no Brasil e eu acho que o maior contra é estar longe da sua rede de apoio, de toda a sua família, de todos os amigos. Você vai passar por coisas difíceis e vai estar aqui sozinha. Por mais que você faça amizades e que tenha pessoas que você confia aqui, você vai estar vulnerável a muitas coisas acontecendo.”

Os benefícios de ter uma moradia fixa em um estado norte americano para Jéssica fazem valer a pena toda a saudade de casa. Para ela, a segurança está em primeiro lugar: “Eu morava na zona leste de São Paulo. Então eu jamais poderia chegar em casa sozinha meia noite e andar na rua esse horário. E aqui às vezes eu chego 1 hora da manhã, 2 horas da manhã, eu tenho que caminhar às vezes 10 minutos até o meu carro e eu me sinto segura de caminhar aqui sozinha.”

O poder de compra também foi um dos fatores que fez Jéssica manter sua moradia nos EUA. Além de eletrônicos e comida, ela pode realizar o sonho do carro próprio - algo que seria muito mais complicado de conseguir morando no Brasil e ganhando seu salário anterior.

Já sobre os pontos que sente saudades de seu país natal, a cultura e comida brasileiras e o fato de sermos mais receptivos e amigáveis que os americanos são os mais fortes. “[No Brasil] A gente se abre muito fácil para fazer novas amizades, para conhecer novas pessoas. A nossa comida também…Eu pertenço ao Brasil, sou brasileira”, completa.

Os desafios de viver longe da família não fizeram Jéssica parar de viver o seu sonho. Ela continuou no país norte americano. Um dos momentos mais difíceis foi seu aniversário, que cai no mesmo dia que o feriado de independência americano, o 4 de Julho. Devido à tradição, a host family de Jéssica viajou para a praia e ela foi trabalhar cuidando das crianças. Jéssica convidou uma amiga para ir junto e foi ela quem lhe deu seu único abraço de aniversário daquele ano, numa casa com 30 pessoas presentes.

Jéssica não tem pretensão de voltar ao Brasil para morar. Ela gosta da independência financeira que conquistou, das viagens que teve a chance de fazer e de tudo que ela conseguiu fazer de lá para ajudar a sua família aqui. Mesmo com as dificuldades, retornar não é uma opção. “Eu conheço muita gente que já voltou. Eu acho que a coragem maior é pra voltar, que você tem que ter. Não pra vir, a coragem é pra voltar.”

 

Pelo fato de compartilhar sua vida nos EUA, Jéssica ganhou vários seguidores e também admiração da família e de conhecidos. Mas a realidade por trás das maravilhas que ela posta, existe muita saudade e muitos perrengues: “Eu tenho tia, primos, pessoas que veem meu Instagram e acham que é assim. “Nossa, mas você tá muito rica, tá chique, meu Deus.” E essas pessoas não estão vendo a nossa rotina aqui, não sabem como é o dia a dia aqui. Porque ninguém vai abrir rede social chorando e falando tudo que tá acontecendo e mostrando toda a angústia, sofrimento e aflição que a gente passa. Você passa muito mais tempo trabalhando do que curtindo.”

Jéssica é mais uma dos milhares de brasileiros que estão espalhados pelo mundo e que decidiram não voltar. É importante para ela sempre frisar que os brasileiros devem sempre pesquisar bastante antes de decidir morar no exterior, qualquer que seja o país, e também tentar ter uma visão menos romantizada do processo. Para isso, ela diz que a mídia poderia oferecer mais visibilidade sobre o assunto, já que a maioria das informações são encontradas via internet de pessoas que vivem a experiência.

Jéssica na Disney

Reprodução Instagram / @jessicabarbosa4

“Muitas pessoas não têm a informação sobre como funcionam as coisas aqui. E também tem aquele ditado, não é bem um ditado, mas é que dizem que a pessoa só vai aprender se ela passar por aquilo. Eu acho que tem que ter mais essa visibilidade para as pessoas caírem no consciente e para entrar na cabeça delas que aqui não é um mundo de fadas que a gente é ensinado quando é criança”, completa.

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